No (agora encerrado) restaurante Sergi Arola, em Madrid


É sempre com alguma admiração e perplexidade que se recebe a notícia do encerramento de um restaurante bastante conceituado, ainda para mais quando detentor de duas estrelas michelin, como é o caso do restaurante madrileno Sergi Arola.

Encerrado permanentemente desde o passado mês de Setembro (devido ao divórcio com a sua esposa, também sócia do restaurante), as atenções recaem agora, com naturalidade, sobre um outro seu restaurante, o LAB by Sergi Arola, no Penha Longa, em Sintra. As expectativas deste novo espaço ser contemplado com uma estrela michelin são legítimas, não fosse este uma réplica do restaurante que agora encerrou e que primava por uma cozinha de elevado nível de qualidade. Com o encerramento do seu flagship, Sergi Arola terá agora mais tempo para se dedicar aos vários restaurantes que tem espalhados pelo mundo. 



Foi na primavera de 2015 que tive oportunidade de visitar o espaço agora encerrado. Tenho por hábito, quando viajo, pesquisar sobre os menus executivos dos restaurantes estrelados que mais me despertam curiosidade, por forma a escolher aquele que apresenta a melhor relação qualidade-preço. Foi assim que a escolha recaiu no restaurante do chef espanhol, pois o menu executivo apresentava uma fracção do preço do menu de degustação, mas ainda assim contemplando pratos incluídos nesse menu.

A refeição começou com a chegada à mesa dos vários amuse bouches. Para começar, as famosas batatas bravas de Sergi Arola. Cremosas por dentro e crocantes por fora, estavam soberbas.


De seguida, tortilha de batata, pele de frango crocante, esferificação de gema de ovo... uma bomba de sabor, como dá para imaginar. Ainda uma espuma de azeitona e vidrado de anchova.


A terminar as "ofertas" do chef, cocktail de comer à colher. Vermute, esferificação de azeitona, cristais de gin.


Um dos pratos mais interessantes do almoço, pela intensidade dos sabores apresentados, foram estas mollejas grelhadas, com uma textura incrivelmente macia e de sabor doce. Mas o melhor, como algumas vezes acontece, foi o acompanhamento - uma terra de trompetas de la muerte e outros cogumelos a dar uma textura e um sabor muito interessantes. No centro, uma demi glace que complementava o conjunto. Um daqueles pratos que perdurará na memória.


De sabores mais simples mas ainda assim intensos estava o cordeiro de leite e seu jus, coberto com pistachio e wasabi,  puré de brócolos e tacos de milho, tomate e pimento.


Nos peixes, o prato menos conseguido. Linguado (mal executado, pois apresentou-se cru), com beterraba, espuma de alho e amêndoa.


Foi no Sergi Arola que vi, pela primeira vez, o empratamento em vazo, agora já bastante observado em diversos restaurantes. Terra de pistachio, ginseng e estragão, espuma de chocolate branco e gelado de wasabi. Simplesmente orgásmico... não dá para expressar o prazer desta sobremesa de outra forma.

                            

Sobre o serviço, no restaurante encontravam-se dois empregados de mesa portugueses - de uma competência extrema, diga-se - que já estando a trabalhar no Arola (restaurante de tapas do chef espanhol também situado no Penha Longa), faziam por aqui um estágio de preparação para a abertura do LAB, o segundo restaurante do chef espanhol a abrir em Portugal.
                            

Sergi Arola, um gentleman e um excelente comunicador, teve a amabilidade de vir cumprimentar todas as mesas, predispondo-se a uma fotografia e convidando a uma visita pela cozinha.

Se dedicar ao LAB uma pequena parte do tempo que dedicou ao seu restaurante em Madrid, terá tudo para fazer do restaurante português um sucesso.

8 comentários:

  1. Estava nos meus planos ir lá almoçar em Dezembro... Por cá já fui ao Arola, mas ainda falta conhecer o LAB. Tirando o DiverXO, cuja reserva já está feita, tens alguma sugestão para Madrid, João? Obrigado e um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Viva Filipe. Já com reserva no DiverXO? Prepara-te para o mundo louco de David Munoz, uma grande experiência que vais ter por lá!

      Ora, se gostas de cozinha mexicana não podes deixar de visitar o Punto MX , primeiro restaurante mexicano a ganhar uma estrela na Europa. Gostei bastante dos sabores que por lá experimentei. Aprovei para acompanhar a refeição com um cocktail de mezcal, adorei a experiência. Os melhores tacos e o melhor guacamole que alguma vez comi!

      Dos que não conheço, tenho imensa curiosidade sobre o restaurante Coque, nos arredores de Madrid. Ouvi (e vi) coisas maravilhosas. :)

      E tentando fugir a sugestões mais óbvias como os duas estrelas madrilenos, creio que o DSTAgE deve proporcionar uma boa experiência, um projecto recente do chef Diego Guerrero que está a ser bem referenciado!

      Espero ter ajudado! Abraço.

      Eliminar
    2. Muito obrigado João (mais uma vez). Já fizemos a reserva no PuntoMX. Já não vamos a tempo do DSTAgE (tudo cheio até ao fim do ano), mas ficará para uma próxima. Afinal, Madrid está mesmo aqui ao lado!

      Quanto ao DiverXO, estou mesmo ansioso. Fico à espera do teu post sobre a tua experiência por lá 😋. Abraço

      Eliminar
  2. Fazendo de advogado do diabo, será que o famoso Guia não vai ficar apreensivo e congelar qualquer estrela que pudesse vir para as réplicas do original? A notícia surge tarde e supostamente o guia já está fechado há algum tempo, mas se tivesse de apostar, diria que não! isto tudo, veja-se o caricato da minha opinião!, sem alguma vez lá ter ido :-p

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho que não, mas agora já vão tarde. Seja como for, nada como ir lá. Pela experiência que tive no Arola, o LAB deve ser muito bom.

      Eliminar
    2. Não me parece que seja já este ano, apesar do LAB ser, pela qualidade do chef Sergi Arola, um potencial estrelado desde que abriu. A questão é que, a partir de agora, o chef terá muito mais tempo para se dedicar ao seu "principal" restaurante (no sentido em que, com o fecho do restaurante madrileno, é neste espaço que, na Europa, continua a praticar a sua cozinha mais criativa e técnica). Se quiser voltar ao "estrelato", será neste restaurante que terá condições para o fazer. E pelo que tenho visto, tem passado algum tempo por cá.

      Eliminar
  3. Não sabia que o "nosso" arola era o principal na Europa, nem que ele tem estado por cá. Sendo assim, esperemos uma estrela em breve!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não confundir o Arola (tapas) com o LAB (alta cozinha), ambos do mesmo chef e ambos no Penha Longa.

      E pelas notícias que dão a duplicação do número de estrelas para Portugal (último post do blog), poderá bem ser neste ano que o LAB conseguirá o tão afamado galardão.

      Eliminar